Quem nunca ouviu o aviso na infância: “espere 30 minutos depois de comer para entrar na água!”? Essa regra, repetida à beira de piscinas e praias, se tornou quase uma lei universal do verão, acompanhada de alertas sobre cãibras terríveis e riscos de afogamento.
Mas, essa recomendação tem base científica ou é apenas um mito que resistiu ao tempo com uma força surpreendente? Para acabar com a dúvida, investigamos o que os especialistas e a ciência dizem sobre o assunto.
A origem do mito: de onde veio essa história?
Pode parecer surpreendente, mas a origem dessa crença é mais curiosa do que científica. O primeiro registro conhecido vem de um manual de escoteiros do início do século XX, que alertava que seria “culpa sua” se um jovem escoteiro comesse demais, tivesse cãibras e se afogasse.
Mais recentemente, a própria Cruz Vermelha Americana publicou um documento desmentindo a necessidade de uma pausa obrigatória, classificando a crença como um “mito”. Embora a opinião de especialistas seja mais ponderada, não há necessidade de pânico.
O que a ciência diz sobre digestão e exercício
A teoria por trás do aviso está relacionada ao fluxo sanguíneo. Após uma refeição, o corpo direciona mais sangue para os órgãos digestivos para processar a comida. Ao mesmo tempo, quando você se exercita, seus músculos exigem mais sangue e oxigênio.
A preocupação é que essa “competição” pelo fluxo sanguíneo possa deixar os músculos com menos oxigênio (causando cãibras) ou atrapalhar a digestão. Segundo a nutricionista Melissa Rifkin, essa competição pode, de fato, causar desconforto digestivo, como diarreia ou cãibras, especialmente após refeições pesadas. No entanto, não há evidências diretas que liguem o ato de comer antes de nadar a um risco aumentado de afogamento.
O segredo não é o tempo, mas o tipo de refeição e nado
A resposta não é binária. Fatores como o que você come e a intensidade do nado são muito mais importantes do que o tempo de espera.
- O que você come: Uma refeição grande e rica em gorduras e proteínas exige muito mais do seu sistema digestivo. Nadar vigorosamente após comer uma feijoada, por exemplo, não é uma boa ideia. Já um lanche leve e rico em carboidratos, como frutas ou iogurte, provavelmente não causará problemas.
- A intensidade do nado: Ficar relaxando na água ou boiando é muito diferente de nadar longas distâncias ou fazer um treino intenso. Para atividades leves, o risco de desconforto é mínimo.
Além disso, a hidratação é um fator muito mais crítico. A desidratação, mesmo que leve, pode impactar negativamente o desempenho físico e mental e aumentar o risco de cãibras.
O que fazer se a cãibra aparecer?
Caso você exagere na comida ou no exercício e sinta uma cãibra, o conselho do Dr. Christopher Mohr, especialista em nutrição, é simples: pare de nadar temporariamente, concentre-se em respirações profundas e alongue suavemente o músculo até o desconforto passar.
Pode nadar sem culpa
Para a maioria das pessoas, a regra de esperar 30 a 60 minutos é um exagero. O mais importante é ouvir o seu corpo. Se você fez uma refeição leve, sinta-se à vontade para entrar na água sem medo. Se comeu algo mais pesado, talvez seja prudente dar um tempo para a digestão antes de um mergulho mais intenso. No fim, o bom senso é o melhor guia.
Referências Bibliográficas
- Van Wijck, K., & Van Loon, L. J. (2011). The effect of protein ingestion on postprandial splanchnic amino acid and protein metabolism in vivo in humans. Journal of Clinical Investigation, 121(3), 862-868.
- Morton, D. P., & Callister, R. (2015). Exercise-related transient abdominal pain (ETAP). Sports Medicine, 45(1), 23-35.
- Rifkin, M., & Mohr, C. R. (2025). Do You Actually Need To Wait To Swim After Eating? Well+Good. Acessado em 25 de agosto de 2025.
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